O ESTILO DE VIDA PORTUGUÊS
Vamos expor aqui algumas generalizações – com todo o perigo de inconformidade que generalizar pode propiciar em casos particulares – numa tentativa de dar uma ideia geral de como a classe média vive em Portugal. Tentamos assim, ajudar a quem vem de fora, a se enquadrar no seu novo ambiente sociocultural.
Talvez uma das coisas mais impactantes ao chegarmos cá é a ausência dos servidores domésticos e profissionais. Os primeiros inexistem como temos no Brasil. Ninguém tem a “secretária” doméstica. E as famílias contentam-se com horistas que, dependendo do tamanho do bolso e da preguiça para as atividades domésticas, vem uma vez por semana ou mês, ou nunca. Já as babás, para quem tem criança pequena, são raridades. Temos mesmo que “nos contentarmos em criar nossos filhos”, dando a eles carinho, atenção e fazendo companhia. E aprendermos a dividir na família, as atividades domésticas. Teremos que exercer a maternidade e paternidade no dia a dia, o que se transforma num prazer e numa dificuldade ao mesmo tempo. Fiquemos pelo prazer.
Já os profissionais, são uma verdadeira agressão aos bons costumes: cobram por orçamento, marcam e não aparecem; aparecem e nunca mandam orçamentos e, last but not least, fechamos o negócio e, simplesmente somem. Cobram sempre caro. E são, naturalmente um estímulo ao faça você mesmo. Em pouco tempo, nos transformamos em especialistas em serviços gerais.
A crise dos últimos anos ensinou, pela necessidade, aos poupados serem ainda mais poupadinhos e a fugirem do crédito, tônica da década de 80 e 90. Faz-se contas, compra-se nos saldos nas lojas de moda barata, roupas em feira e, é comum, a compra de roupas usadas nos mercados livres e nos garage sales. As carteiras estão recheadas de cartões que garantem, descontos, pontos ou acesso privilegiados às promoções. É bom lembrar que aqui não precisamos nos exibir à sociedade e vizinhos, pois somos ilustres desconhecidos. E não vão mesmo ligar para a gente. Crédito mesmo, é para a compra da casa própria ou automóvel.
Aproveitam-se as atividades gratuitas, os serviços públicos e, em particular a escola e os serviços de saúde pública, o que comparativamente ao Brasil significa a maior economia.
Muitos já não têm carro. Usam motos, trotinetes e bicicletas – aqui muito mais respeitadas – e os serviços de transporte público. Daí a importância da escolha de onde morar, e do aproveitamento dos passes mensais
Um programa típico de final de semana são as esplanadas no verão e os cafés no inverno. Aproveita-se o convivio familiar ou lê-se um livro. A noite, há para todos os gostos e bolsos, principalmente em Lisboa.
Ou seja, há muito o que se fazer sem nada - ou quase nada – gastar. Um exemplo: todos os monumentos históricos têm dia de visitação gratuito. Vamos aproveitar.
A sociedade aqui, deixando-se os extratos de renda mais elevada, é muito mais igualitária. É uma sociedade menos permeável, com alguma dificuldade de absorver o estrangeiro, apesar da verdadeira avalanche dos últimos tempo. São mais formais nos relacionamentos. Há que se ter cuidado com a informalidade e principalmente se respeitar as normas aceitas de convivio social: cuidado com as festas em casa, por conta dos ruídos externos; com a forma de tratar os mais velhos; com o uso dos títulos nas conversas.
O principal aliado para a socialização é o ambiente de trabalho, ginásios e a própria escola dos filhos. E o maior erro é se tornar dependente da colônia brasileira. Há que saber dosar.
Apesar de tudo, os portugueses gostam da forma brasileira de ser, leve, à vontade e descontraída nas relações. Desde que respeitemos a forma de ser deles, nossos anfitriões.
Dentro deste enquadramento, lembre-se que cada tostão gasto, enquanto não se ganha mais do que se gasta, é redução da sua reserva. É pôr em risco o sucesso da emigração a paz da família.
Por isso, deixe para traz o consumismo e mão na carteira. Não para gastar, mas sim para poupar.
Setúbal, 31 de outubro de 2023
Renato Leal
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